sábado, 31 de julho de 2010

O SUICÍDIO

Hoje vou escrever sobre o suicídio. Mas não se aflijam: não estou pensando em me matar. No momento não tenho razões para esse ato, embora não exista garantia alguma de que eu não vá tê-las no futuro. No momento estou contente. Pretendo viver muitos anos, enquanto puder ter alegria.
Por que escrevo sobre o suicídio? Pela mesma razões porque escrevo sobre os ipês. Comovem-me as flores dos ipês e o suicídio dos suicidas. Ambos são belos. O final da comovente ópera Madame Butterfly termina com o suicídio de uma mulher apaixonada. Manuel Bandeira dizia, do último poema que ele haveria de escrever, que desejava que ele tivesse “a paixão dos suicidas que se matam sem explicação”. Albert Camus via o suicídio como “um ato preparado no silêncio do coração, como uma grande obra de arte”. Claro que é trágico, horrendo, medonho. Mas é preciso não confundir beleza com flores e riachos cristalinos. Belos são os oceanos enfurecidos, os desertos queimados pelo sol, os abismos gelados das montanhas, o furacão furioso, os olhos do tigre, os vulcões em erupção.
Muitos amigos meus se suicidaram, pessoas que eu amava e admirava. Curioso: todos os suicidas que conheci eram pessoas inteligentes, sensíveis, íntegras, e nas suas vidas aparecia a beleza. Não sei de nenhum vagabundo desclassificado que tenha se matado. Lembro-me de Henry Pitney van Dusen, presidente do Union Theological Seminary onde estudei, homem cristão, teólogo, brilhante, conversador fulgurante, maravilhoso senso de humor, era sempre o centro de todas as atenções. Jamais se pensaria que algum dia ele teria razões para se suicidar. Mas o tempo fez o seu trabalho. Vieram os anos dos quais as Sagradas Escrituras dizem: “Não encontro neles contentamento”. Chegou a decomposição física da velhice. Os esfíncteres fora de controle, a humilhação. Com a decomposição física, a decomposição estética. Tudo era feio, malcheiroso, escuro. Ele e a mulher realizaram o último ato de amor: puseram fim à vida. Há a Ana Cristina César, poetisa, autora do livro A teus pés (Brasiliense): mulher linda, jovem, corpo cheio de vida, brilhante, amada. Mas frequentemente num corpo cheio de vida existe uma alma cheia de dor. Para fugir da dor insuportável, transformou-se em pássaro, voou sobre o abismo. E um outro amigo, jovem, esteta, religioso, apaixonado pela beleza, especialista em liturgia, no hospital, devastado pela Aids, uma luta de muitos anos, sabia que o fim se aproximava, estava exausto de sofrer. Sua mãe estava ao seu lado. “Está muito quente, mãe. Abre um pouco a janela...”. Da sua cama, no sétimo andar, ele podia ver a cidade lá embaixo. “Você parece cansada”, disse à sua mãe, depois de aberta a janela. “Cochila um pouquinho. Eu estou bem...”. Quando ela acordou a cama estava vazia. Também ele se transformara em pássaro.
Algumas religiões amaldiçoam os suicidas. Argumentam que a vida é dádiva de Deus e que somente ele tem o direito de tirá-la. Que miseráveis seres somos nós, condenados a aceitar até o fim as dores que o destino inflige em nosso corpo e em nossa alma. Pensam que Deus é um demônio sádico que nos envia sofrimentos e nos ameaça com sofrimentos mais horrendos ainda se não os aceitarmos e suportarmos com gratidão. Pedir gratidão pelo sofrimento: nenhum homem seria monstruoso a esse ponto. E, no entanto, eles acreditam que Deus exige isso dos homens. Isso, eu afirmo, não é um deus. É um monstro que jamais terá o meu respeito. Se os sofrimentos fossem dádiva de Deus teríamos de sofrer a perna apodrecida pela gangrena até o fim e morrer sem amputá-la: se aconteceu é porque Deus quis; se Deus quis eu tenho de querer. E teríamos de suportar a dor do câncer sem o alívio da morfina até o fim: se aconteceu é porque Deus quis; se Deus quis eu tenho de querer. Os argumentos teológicos contra o suicídio, baseados no medo de um Deus vingador, apenas revelam que aqueles que os mantêm ainda não compreenderam que Deus não tem vinganças a realizar; ele é um Deus de amor.
A vida humana, como fato biológico, não é o valor supremo. Todas as religiões reconhecem que, acima do valor da vida, está o valor do amor. Por causa do amor, até a vida pode ser sacrificada. Todos os que amam verdadeiramente estão prontos a dar a sua vida pela coisa amada. E é isso que dá sentido à nossa vida: as coisas pelas quais estamos dispostos a morrer. As coisas que nos dão razões para morrer são as mesmas que nos dão razões para viver.
O trecho acima, extrai do livro que acabei de ler do Rubem Alves: A Festa de Maria. No capítulo que fala sobre o suicídio na página 51. Infelizmente conheci de perto pessoas que se suicidaram e é difícil tentar entender o que leva o ser humano chegar a essa situação limite, só sei dizer que isso acontece desde todas as épocas, em todas as classes, culturas e religiões.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Leitura

"A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede"
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 25 de julho de 2010

Tênis x Frescobol

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim... (O retorno eterno, p. 51.)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Gosto de gente com a cabeça no lugar...


Gosto de gente com a cabeça no lugar, de conteúdo interno, idealismo nos olhos e dois pés no chão da realidade.
Gosto de gente que ri, chora, se emociona com um simples e-mail, um telefonema, uma canção suave, um bom filme, um bom livro, um gesto de carinho, um abraço, um afago.
Gente que ama e curte saudade, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais.
Admira paisagens, poeira e chuva.
Gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão, repartir ternuras, compartilhar vivências e dar espaço para as emoções dentro de si, emoções que fluem naturalmente de dentro de seu ser!
Gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir de compromissos difíceis e inadiáveis,
por mais desgastantes que sejam.
Gente que colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um analfabeto.
Gente de coração desarmado,
em ódio e preconceitos baratos.
Com muito AMOR dentro de si.
Gente que erra e reconhece, cai e se levanta,
apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros e fazendo redentoras suas lágrimas e sofrimentos.
Gosto muito de gente assim como VOCÊ
e desconfio que é deste tipo de gente que DEUS também gosta!

Arthur da Távola

terça-feira, 20 de julho de 2010


O que as pessoas mais desejam
é alguém que as escute
de maneira calma e tranqüila.
Em silêncio. Sem dar conselhos.
Sem que digam: "Se eu fosse você..."
A gente ama não é a pessoa que fala bonito.
É a pessoa que escuta bonito.
A fala só é bonita
quando ela nasce de uma longa
e silenciosa escuta.
É na escuta que o amor começa
E é na não escuta que ele termina.
Rubem Alves

20 de julho dia do amigo!


O Dia Internacional do Amigo, celebrado a 20 de julho, foi primeiramente adotado em Buenos Aires, na Argentina, com o Decreto nº 235/79, sendo que foi gradualmente adotado em outras partes do mundo.
A data foi criada pelo argentino Enrique Ernesto Febbraro. Ele se inspirou na chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969, considerando a conquista não somente uma vitória científica, como também uma oportunidade de se fazer amigos em outras partes do universo. Assim, durante um ano, o argentino divulgou o lema "Meu amigo é meu mestre, meu discípulo é meu companheiro".
Aos poucos a data foi sendo adotada em outros países e hoje, em quase todo o mundo, o dia 20 de julho é o Dia do Amigo, é quando as pessoas trocam presentes, se abraçam e declaram sua amizade umas as outras, na teoria.
No Brasil, o dia do amigo é comemorado oficialmente em 18 de abril. Em 20 de julho é comemorado o dia da amizade, mas atualmente o país também vem adotando a data internacional.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


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Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um do outro há de se lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente,
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos pra sempre.

Há duas formas para viver sua vida :
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.


Feliz Dia do Amigo!

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

"DEFICIÊNCIAS"

Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. E só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
Diabético é quem não consegue ser doce.
Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.
A amizade é um amor que nunca morre.
Extraído do dicionário particular de Mário Quintana
Embora a autoria do texto está sendo questionada. Mas o conteúdo nos leva a refletir o quanto à sociedade está deficiente por ser portadora de determinadas limitações sociais, intelectuais, moral, ética, quando se cala diante de situações, banalização da violência, fome, exploração infantil e a corrupção e fecha os olhos para todos esses problemas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Me definindo com imagens

Recebi esse desafio da querida Bia Rodrigues. http://detudoumpouco-bia.blogspot.com/ Obrigada Bia! adorei!!!!!!!
A regra é responder todos os tópicos com imagens.


Quem sou:

O que me faz sorrir:








O que me faz chorar:



Minha cor:



Um hobby:

sábado, 10 de julho de 2010

Quando me amei de verdade...

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima. Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é... Autenticidade. Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... Amadurecimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito. Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama... Amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... Simplicidade. Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a... Humildade. Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude. Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é... Saber viver!!!
Charles Chaplin

sexta-feira, 9 de julho de 2010

“Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta
melhor para nossos filhos...
Quando é que 'pensarão' em deixar filhos
melhores para o nosso planeta?"

quarta-feira, 7 de julho de 2010


“Se alguém ama uma flor da qual só existe
um exemplar em milhões de estrelas, isso
basta para que seja feliz quando a contempla."

( Antoine de Saint-Exupéry)

domingo, 4 de julho de 2010

O meu olhar é nítido como um girassol

Como estou de férias, com um tempinho livre, comecei a ler meus livros que estavam "esquecidos" na estante! Um deles "A Escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir", a famosa Esscola da Ponte de Rubem Alves. Como vocês já perceberam Rubens Alves é um educador que gosto muito e já foi citado diversas vezes aqui no Blog inspirou o título deste blog "Carpe Diem - Colha o Dia". No capítulo que eu estou lendo ele fala dos mestres Zen que pregavam a filosofia do desensinar.
(...) Os mestres zen eram educadores estranhos. Não pretendiam ensinar coisa alguma. O que pretendiam era "desensinar". Avaliações de aprendizagem nem pensar. Mas Estavam constantemente avaliandoa a aprendizagem de seus discípulos. E quando percebiam que a desaprendizagem acontecera eles riam de felicidade...
Loucos? Há uma razão na loucura. "Desensinavam" para que os discípulos pudessem ver como nunca tinham visto. Nietzsche dizia que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Ver é coisa complicada, não é função natural. Precisa ser aprendida(...)" (...) A pedagogia do mestre Zen tinha como objetivo desarticular a linguagem. Quebrando o feitiço... os olhos são libertados dos saberes e ganham condições de olhos de crianças vêem como nunca haviam visto.(...)
Ele cita a poesia de Aberto Caeiro para a necessidade de "desaprender"

O meu olhar é nítido como um girassol.
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
Para ver as árvores e as flores é preciso também não ter filosofia nenhuma.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu...
O essencial é saber ver.
- Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...


Eu cito pera concluir um trechinho de Machado de Assis onde ele fala que "Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito."