domingo, 4 de julho de 2010

O meu olhar é nítido como um girassol

Como estou de férias, com um tempinho livre, comecei a ler meus livros que estavam "esquecidos" na estante! Um deles "A Escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir", a famosa Esscola da Ponte de Rubem Alves. Como vocês já perceberam Rubens Alves é um educador que gosto muito e já foi citado diversas vezes aqui no Blog inspirou o título deste blog "Carpe Diem - Colha o Dia". No capítulo que eu estou lendo ele fala dos mestres Zen que pregavam a filosofia do desensinar.
(...) Os mestres zen eram educadores estranhos. Não pretendiam ensinar coisa alguma. O que pretendiam era "desensinar". Avaliações de aprendizagem nem pensar. Mas Estavam constantemente avaliandoa a aprendizagem de seus discípulos. E quando percebiam que a desaprendizagem acontecera eles riam de felicidade...
Loucos? Há uma razão na loucura. "Desensinavam" para que os discípulos pudessem ver como nunca tinham visto. Nietzsche dizia que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Ver é coisa complicada, não é função natural. Precisa ser aprendida(...)" (...) A pedagogia do mestre Zen tinha como objetivo desarticular a linguagem. Quebrando o feitiço... os olhos são libertados dos saberes e ganham condições de olhos de crianças vêem como nunca haviam visto.(...)
Ele cita a poesia de Aberto Caeiro para a necessidade de "desaprender"

O meu olhar é nítido como um girassol.
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
Para ver as árvores e as flores é preciso também não ter filosofia nenhuma.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu...
O essencial é saber ver.
- Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...


Eu cito pera concluir um trechinho de Machado de Assis onde ele fala que "Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito."

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