sábado, 29 de outubro de 2011

Amar...

Pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar, solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amor o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte,
e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: o amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesmo de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

9 comentários:

  1. Pois é, Zélia, o amor é mesmo sede infinita...

    Beijo :)

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  2. Oi, amiga, boa tarde.
    Adoro Drummond, me inspiro muitas vezes nele, pra criar "...minhas poesias" rs
    Hoje, penso que escrevi um post alegre,por amor ao Brasil e também criei em poema simples, mas que diz muito*...pra mim.
    Se quiser, vê lá, vais adorar o vídeo, qualquer brasileiro sente orgulho do seu País, que é abençoado por Deus.
    Um grande beijo, e muita paz* no seu coração.

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  3. É como ar nos pulmões da vida pulsante, sangue vivo!

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  4. É o meu preferido do Drummond, Zélia, que delícia encontrá-lo aqui!

    =)

    Um beijo.

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  5. A inesgotabilidade do amor é disto que se trata, sempre, diria o poeta.

    Beijos carinhosos!

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  6. querida!!!
    Drummond poeta maravilhoso,
    ele fala de amor como ninguem.
    porque só o AMOR da sentido a nossas vidas.
    uma semana abençoada pra ti.bjs

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  7. Lindo demais...CDA sempre vivo na memória dos sensíveis...Um grande beijo pra vc Zélia!!

    ..."vamos conjugar
    o verbo fundamental essencial,
    o verbo transcendente,
    acima das gramáticas
    e do medo e da moeda e da política,
    o verbo sempreamar,
    o verbo pluriamar,
    razão de ser e de viver". Carlos Drummond de Andrade

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  8. Esse poema de Drummond lembra-me um recital de poesias da faculdade em que o recitei, A professora Gilda coordenadora do recital deu ao mesmo um tom muito mais poético por incorporar ao mesmo músicas e dramatização. Fora isso resta-me o tremor da hora do recital e a linda homenagem a Drummond. Abraço Zelia

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