sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Poética...

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira

5 comentários:

  1. Libertemo-nos através da poesia... mas libertemo-nos!

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  2. Um belissimo poema que aplaudo com todas as mãos.
    Obrigado por o partilhares.

    Bem vinda á Incontinencia Cultural

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  3. Um lirismo desmedido, desregrado, desprendido...

    Beijos!!!

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  4. Arrepiei...

    Bandeira sabia das coisas.

    Beijo !

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  5. Zélia, adoro esse poema! Me fez viajar no tempo, no movimento modernista e nessa sede de libertação!!! Obrigada por nos lembrar de que palavras tão bonitas não podem sair da memória... Um beijo.

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