domingo, 13 de maio de 2012

Biografia...

Escreverás meu nome com todas as letras
Com todas as datas, e não serei eu.
Repetirás o que me ouviste, o que leste de mim
E mostraras meu retrato, e nada disso serei eu
Dirás coisas imaginárias, invenções sutis
Engenhosas teorias, e continuarei ausente.
Somos uma difícil unidade
De muitos instantes mínimos, isso serei eu.

Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente
- Como me poderão encontrar? 
 Novos e antigos todos os dias,
Transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos  procuramos. 
 E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.           
- Que metal nos poderia prender?

Cecília Meireles.

7 comentários:

  1. Primorosos versos, estes de Cecília Meireles. Ficou linda esta postagem. Abraço fraterno, seu amigo. Marco Rocca.

    ResponderExcluir
  2. Somos mil fragmentos em jogo misterioso...Muito lindo este texto da Cecília Meireles! Muito bom gosto o seu de postá-lo! Adorei te ver lá no mosaico de seguidores do meu humilde blog. Bjs da amiga Ivany

    ResponderExcluir
  3. Olá!Boa noite!
    Tudo bem?
    ...lindo texto da Cecília Meireles, que denotam as características dela:o lirismo; a consciência da efemeridade, a solidão, a melancolia, reflexão filosófica e musicalidade.Gostei!
    Obrigado pela sua participação em meu blog!
    Muito feliz e honrado!
    Boa semana!
    Beijos

    ResponderExcluir
  4. Eu tenho muita afinidade com tudo que Cecilia escreveu...leio todos os dias algum poema...e esse eh muito lindo!! Um beijo carinhoso pra vc, Zelia.Eh sempre muito bom passar por aqui!!!

    ResponderExcluir
  5. Zelia, adorei conhecer teu blog.
    Tens um bom gosto incrível.
    Os poemas postados são maravilhosos
    Parabens pelo belo trabalho.
    um beijo com carinho
    vera portella

    ResponderExcluir
  6. Amiga Zélia!
    Vim dizer q o poema de Cecília é muito bonito.Quisera poder escrever como ela, nossa poetisa maior.E tb vim convidar-lhe a visitar meu blog e conferir meu post novo.Caso deseje participar, atente aos detalhes do post.Um grande domingo,de muita paz para vc.Um bjo amigo, Rubi.

    ResponderExcluir
  7. Em tempos em que as biografias estão em voga, atraindo o prestígio das massas, este poema de cecília soa-me à semelhança de um manifesto, que faz tilintar em noss alma: somos inapreensíveis a qualquer tentativa de nos verbalizar, sem na forma de um escrupuloso relato, seja por meio de máximas encapsuladoras do que nos parece o essencial. O essencial é uma grande ficção forjada por nosso cérebro que precisa incorporar sínteses em meio ao caos da realidade exterior. A poesia de Cecília aponta-nos um caminho para tentar delinear-lhe ao menos uma impressão sua. Mas só uma impressão. Na vida social, somos a reunião das imagens recíprocas que se constroem na interação pela linguagem. Mas nós acreditamos poder atingir a dimensão desse ser, que é inapreensível como unidade, por é é na medida em que se manifesta em cada ato da vida.

    ResponderExcluir