domingo, 17 de junho de 2012

Aprendi a escrever lendo...

Aprendi a escrever lendo, da mesma forma
que se aprende a falar ouvindo. Naturalmente,
quase sem querer, numa espécie de método
subliminar. Em meus tempos de criança, era
aquela encantação. Lia-se continuamente e
avidamente um mundaréu de história
(e não estórias) principalmente as do Tico-Tico.
Mas lia-se corrido, isto é, frase após frase,
do princípio ao fim.
Ora, as crianças de hoje não se acostumam a ler corretamente, porque apenas olham as figuras
dessas histórias em quadrinhos, cujo “texto” se
limita a simples frases interjetivas e assim mesmo
muita vez incorretas. No fundo, uma fraseologia de guinchos e uivos, uma subliteratura de homem das cavernas.
Exagerei? Bem feito! Mas se essas crianças, coitadas, nunca adquiriram o hábito da leitura, como saberão
um dia escrever?

Mario Quintana.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Penetrália...

Falei tanto de amor!... de galanteio,
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio...
O verdadeiro amor, honra e desgraça,
Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.


Não proclamei os nomes, que baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho.
Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.

Olavo Bilac.