domingo, 30 de setembro de 2012

Viração...

Voa um par de andorinhas, fazendo verão.
E vem uma vontade de rasgar velhas cartas,
velhos poemas, velhas contas recebidas.
Vontade de mudar de camisa,
por fora e por dentro... Vontade...
para que esse pudor de certas palavras?...
vontade de amar, simplesmente.

Mário Quintana.

sábado, 22 de setembro de 2012

Aquilo que creio...

Aquilo que, creio,
produz em mim o sentimento profundo,
em que vivo, de incongruência com os outros,
é que a maioria pensa com a sensibilidade,
e eu sinto com o pensamento.
Para o homem vulgar, sentir é viver
e pensar é saber viver.
Para mim, pensar é viver
e sentir não é mais
que o alimento de pensar."

Fernando Pessoa.

sábado, 15 de setembro de 2012

Quando eu for...

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar)

E talvez de meu repouso...

Mario Quintana.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que eu adoro em ti...

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira.