quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que eu adoro em ti...

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira.

3 comentários:

  1. Sempre bom relembrar...
    Tenha um lindo feriado!
    Beijo da amiga sem tempo de vir, mas que hoje aqui estou.
    Sua amiga
    Ivany

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  2. Lindíssimo este poema de Manuel Bandeira. O personagem deste poema disseca nuances, detalhes, coisas do dia a dia que em seu conjunto, são a própria vida. Amei este poema Zélia. Lindo demais!!!!

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