quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um dia perfeito...

Hoje queria um dia
feito de horas de oferecer.
Porque há dias diferentes.
Dias especiais
em que queremos encomendar o sol,
a luz do horizonte, a doçura do ar.
Queria oferecer um dia hoje.
Um dia perfeito.
Embrulhado em momentos guardados.
Talvez com uma fita cor de certeza
calma, e um laço pleno de voltas cúmplices.
Só um dia.
Dado assim...

Mário Quintana

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Para ler poesia...

Não basta saber ler para ler poesia.
Ler poesia é uma arte. Exige que o leitor
se coloque numa posição especial de alma.
O segredo da poesia está na música da leitura.
Mais do que uma arte: é um ato de bruxedo.
O leitor invoca um mistério que se encontra
nos interstícios das palavras do poeta.
Essas palavras estão dentro dele mesmo.
O poema faz-me ouvir um poema que está
dentro de mim.
Esse poema que está dentro de mim é
um pedaço do mim.
Muitas pessoas têm hábitos suínos de leitura.
Lêem como os porcos devoram a lavagem.
Tudo é igual, não há pausas, tudo com pressa.
Romain Rolland se referia a um sentimento que ele não tinha, mas não podia descrever, pelo que lhe deu o nome de “sentimento oceânico”.
Você já experimentou ficar boiando no mar?
O corpo todo solto, sem fazer nada, nenhum movimento,
subindo e descendo ao sabor das ondas?
Pois é assim que se lê poesia: flutuando ao sabor das palavras, sem pressa, em voz alta, poesia é música.
São falas do coração. Por favor: não tente entender.
Música não é para ser entendida. é para ser ouvida.
Poesia não é para ser entendida.
É para ser lida em voz alta.

Rubem Alves.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A passagem das horas...

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco
 – não sei qual – e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos,
todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse
querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção,
o choque, a válvula, o espasmo“.

Álvaro de Campos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Futuro...

"Sei que me espera qualquer coisa
Mas não sei que coisa me espera.
Como um quarto escuro
Que eu temo quando creio que nada temo...
Mas só o temo, por ele, temo em vão.
O mistério da morte a mim o liga
Ao brutal fim do meu poema".

Álvaro de Campos.