domingo, 31 de agosto de 2014

Amar é ouvir...

Amamos não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito…  A arte de amar e a arte de ouvir estão intimamente ligadas. Não é possível amar uma pessoa que não sabe ouvir. Os falantes que julgam que por sua fala bonita serão amados são uns tolos. Estão condenados a solidão. Quem só fala e não sabe ouvir é um chato… O ato de falar é um ato masculino. Fala é falus: algo que sai, se alonga e procura um orifício onde entrar, o ouvido… Já o ato de ouvir é feminino: o ouvido é um vazio que se permite ser penetrado. Não me entenda mal. Não disse que fala é coisa de homem e ouvir é coisa de mulher. Todos nós somos masculinos e femininos ao mesmo tempo. Xerazade, quando contava as estórias das 1001 noites para o sultão, estava carinhosamente penetrando os vazios femininos do machão. E foi dessa escuta feminina do sultão que surgiu o amor. Não há amor que resista ao falatório.

Rubem Alves.
In: Quarto de Badulaques. p.20

domingo, 10 de agosto de 2014

Vossos filhos não são vossos filhos...

Vossos filhos não são vossos filhos, 
são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. 
Vêm através de vós, mas não de vós. 
E embora vivam convosco, não vos pertencem. 
Podeis outorgar-lhes vosso amor, 
mas não vossos pensamentos. 
Porque eles têm seus próprios pensamentos. 
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; 
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, 
que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. 
Podeis esforçar-vos por ser como eles, 
mas não podem fazê-los como vós, 
Porque a vida não anda para trás 
e não se demora com os dias passados. 
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos 
são arremessados como flechas vivas. 
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito 
e vos estica com toda a sua força 
para que suas flechas se projectem rápido e para longe. 
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria; 
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, 
ama também o arco que permanece estável.


(Gibran Kahlil Gibran - O Profeta) 

sábado, 2 de agosto de 2014

Apenas...

Por aí, meus versos,
vidas soltas a planarem
feridas à esconder
sonhos dispersos...
Intimidades coesas
por seu olhar feérico,
pudesse eu, à encantaria.
Toda ausência,  sua presença,
inocência, essa onipotência.
Pudera, conceder-lhe
a fleuma dos poemas
e que você a entendesse 
como um arquétipo.
Apenas isso, nada mais...
Mas, sou um tolo
tentando lhe sensibilizar.

Marco Rocca.


 Ps. Todos os créditos reservados ao autor.