domingo, 23 de novembro de 2014

Gargalhada...

Quando me disseste que não mais me amavas, 
e que ias partir, dura, precisa, bela e inabalável, 
com a impassibilidade de um executor, 
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias... 
Mas olhei-te bem nos olhos, 
belos como o veludo das lagartas verdes, 
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos, 
tive pena de ti, de mim, de todos, 
e me ri da inutilidade das torturas predestinadas, 
guardadas para nós, desde a treva das épocas, 
quando a inexperiência dos Deuses 
ainda não criara o mundo...


Guimarães Rosa.

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