Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu,
de viver à altura do meu mister,
e,
por isso, de desprezar a ideia do reclame,
e plebeia sociabilizacão de mim, do
Interseccionismo,
reentrei de vez, de volta da minha viagem
de impressões pelos
outros,
na posse plena do meu Génio
e na divina consciência da minha Missão.
Hoje só me quero tal qual meu carácter nato
quer que eu seja; e meu Génio, com
ele nascido,
me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre,
a mais alta e a mais
calma.
Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe,
nada de girândolas para o
riso
ou a raiva dos inferiores.
A superioridade não se mascara de palhaço;
é de
renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros
no meu
carácter cessou com isto.
Reconheci — ao sentir que podia
e ia dominar o desejo intenso e infantil
de « lançar o Interseccionismo»
— a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez.
Nasci.
Fernando Pessoa, 'Páginas Íntimas e de
Auto-Interpretação'
Entre o ir e o vir, vislumbres de bem estar. Duradouros? A caminhada é interminável.
ResponderExcluirUm beijinho, Zélia :)