quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem por reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa

4 comentários:

  1. A desmultiplicação do ser, ou as diversas camadas do ser...

    Beijo :)

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  2. q lindoo... mto lindo escrito Zélia!

    um ótimo final de semana!
    fica com DEUS...

    Bjksssssssssssss no ♥

    Mih_

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  3. Zelia,
    Lindoooooooo seu blog!!!!
    Quanta sensibilidade encontrei aqui...adorei! Parabéns!
    Bjs.

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  4. Pessoa é sempre encantador! Acredito que houveram poucos como ele, que retrataram tão bem a alma humana.
    Beijos, flor!

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