"Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo. "Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se refletem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objetiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia. Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo. "Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se refletem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objetiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia. Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."
Do Livro do Desassossego – Fernando Pessoa.
Querida Zélia! Receba esse link como uma singela homenagem do Posts à Beira Mar pelo dia das mães:
ResponderExcluirhttp://postsabeiramar.blogspot.com/2011/05/ser-mae.html
Beijos e abraços!
Ao mesmo tempo, não podemos enxergar com nitidez nossa própria imagem senão quando está refletida.
ResponderExcluirQue bom que você continua caminhando, aproveitando o dia, Zélia.
Grande abraço.
Zelia , querida , sempre somos assim , com a descrição singela do Fernandíssimo e é tão lindo como ele nos reflete em seus escritos. Para mim ele é um dos maiores mestres.
ResponderExcluirEstá tudo sempre lindo e perfeito aqui e , como você , sigo colhendo os dias. Grande Beijo.
www.meusescritoseoutraspalavras.blogspot.com
www.vidainversoepoesia.blogspot.com
Se minha mente míope me permitissem assim pensar, seria de uma imensidão...
ResponderExcluirÉ preciso que tenhamos noção de nossos atos e de nossas palavras. Assim, evitamos ferir o próximo. Creio que este diálogo indiretamente aborda este assunto. Muito lindo, parabéns!
ResponderExcluirBoa tarde Zélia, Fernando Pessoa falar o que .. PERFEITO! bjs tenha uma semana abençoada.
ResponderExcluirUm pensamento tão verdadeiro e contemporâneo como são as obras dos imortais. bjs e bom dia!
ResponderExcluirlindo Zélia!
ResponderExcluirEu há muito me curei de enxergar-me do tamanho que sou, pois sendo sempre baixinha, muitas vezes cheguei a pensar em ser pouco... Hj não faço mais isso, aprendi que sou mais que meu tamanho, mas não tinha pensado nessa frase, que extrapola totalmente meu limites corporais... Lindo!
Obrigada por escrever.
Beijinhos!
Olá, Zélia! "Carpe diem" é um dos meus leitmotivs preferido. "Sou do tamanho do que vejo" é o colocar-nos no nosso devido lugar: ponto minúsculo face ao Universo, pensando, tantas vezes, que somos muito importantes... Diria que apenas somos importantes porque somos capazes de pensar que somos apenas um ponto minúsculo face ao Universo. E para se deliciar com problemas do metafísico, convido-a a ver o meu blog: ohomemperdeuosseusmitos.blogspot.com.
ResponderExcluirEm próximos textos, vou escrever sobre Fátima. Cativa-a?
Saudações.
Oie! Obrigada por ter ido lá seguir meu blog, eu não sei mexer direito ainda. Mas estou aprendendo! adorei seu blog!!! bjs
ResponderExcluir